quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Homilia da Missa do início da missão como Arcebispo Metropolitano

“Eles não tem mais vinho”... “Fazei tudo o que Ele vos disser”

O evangelho das Bodas de Caná apresenta a pessoa de Cristo como aquele que traz vida nova, aquele que é capaz de renovar avida que se mostra cansada e sem vitalidade. Levar a vida sem o vinho de festa é uma realidade que sempre ameaça a cada pessoa e cada comunidade na caminhada de batizados.

Eles não tem mais vinho – O vinho simboliza o que traz entusiasmo, alegria na vida. Quer significar as coisas que dão sentido ao próprio viver. O cristianismo, como concretização dos ensinamentos do Evangelho, dá disposição para as ações do dia a dia. Desta forma, não ter mais vinho constitui-se um drama que atinge a qualidade de vida. É o mal que sempre ronda a vida do cristão, e consequentemente a vida das comunidades cristãs.

O Documento de Aparecida lembra que vivemos uma mudança de época. A mudança de época que nos envolve é marcada em grande parte pela falta do vinho novo de festa. Quando se olha a realidade que nos cerca e mesmo dentro da Igreja podemos constatar que vive-se uma festa em que acabou o vinho.

. Quando olhamos para a situação das famílias, podemos dizer, em tantos casos, que não é a família que queremos. As separações, a falta de senso do sacramento do matrimônio, o amor que é trocado por vantagens, pessoas que não são capazes de enfrentar uma mínima dificuldade, a prática de abortos, os filhos abandonados – tudo nos faz concluir que está faltando o vinho que dá sentido ao matrimônio. E a comunidade se ressente desta situação.

. A violência crescente, os jovens que buscam toda espécie de drogas para preencher o vazio na vida nos mostram que aí falta o vinho de festa.

. A corrupação, a busca compulsiva pelo prazer, pelo consumo, e todas as atitudes que levam ao egoismo e ao superficialismo denotam a falta do vinho novo de festa.

. Também dentro da Igreja, em nossas instituições somos tentados a viver sem o vinho novo de festa.

. Quando a insatisfação e o cansaço toma conta da nossa vida de padres, de religiosos, de líderes cristãos, aí pode estar faltando o vinho novo de festa.

. Quando temos dificuldade para cumprir o nosso compromisso de cristãos, quando os atos da prática religiosa se tornam enfadonhos e sem significado, ou somos indiferentes ao relacionamento com Deus, também podemos pensar que está faltando o vinho novo de festa.

. A crise da vida religiosa, a diminuição das vocações nos fazem lembrar que falta o vinho de festa.

. Também os jovens – na origem de suas crises existenciais, muitas vezes sentem o vazio de não ter mais vinho que dá vigor e sentido para suas vidas.

Mesmo no século do progresso técnico e da ciência a grande ameaça é reproduzirmos a figura lembrada pelo profeta Ezequiel, na primeira leitura – um monte de ossos ressequidos, onde não está presente o Espírito, a vida.

A passagem dos Discípulos de Emaús mostra o que é viver sem o vinho de festa, desiludido com as promessas do próprio Cristo. Voltavam desanimados e desorientados para suas casa porque acreditavam que crer em Cristo tinha sido um grande engano. As escolhas e o modo como tinham vivido havia levado ao desânimo e ao descrédito com o que pudesse acontecer algo de bom. É a imagem de tantas situações vividas em nossa sociedade e em nossa Igreja.

- Água transformada em vinho - Mas a mesma passagem do Evangelho mostra como superar esta situação. Os dois ouvem com atenção a Cristo pelo caminho do desânimo. O cansaço desencorajamento se transformam em vigor e desejo de viver outra vida. Reconhecem Cristo ao partir o pão. O encontro com a pessoa de Cristo vivo e ressuscitado muda toda a situação. Já não é o cansaço e desânimo que dominam suas vidas, mas o entusiasmo e a alegria de contar aos outros o tinham vivenciado. Esta é a imagem do discípulo missionário. Esta também a imagem de Igreja que queremos ter na arquidiocese de Florianópolis.

Nós cristãos somos convidados a dar com a nossa vida e com o nosso testemunho a levar à sociedade o sal que dá sabor a vida. E o sal não pode ser insípido. A vida cristã não pode se transformar em um fardo a ser carregado, que não dá sentido e nem tem sabor.

A presença de Cristo é que transforma a água em vinho. A presença de Cristo que transformou o cansaço dos discípulos de Emaús. É o mesmo Cristo que transformará a nossa vida. Nele encontraremos a alegria de crer e o entusiasmo de viver. Somos convidados, como a Samaritana, a ir ao poço para escutar Jesus, que convida a crer nele e a beber da fonte de onde brota a água viva. Em seguido somos impelidos a sair correndo para anunciar que Cristo está vivo e ressuscitado.

-As talhas de água – Eram usadas para os ritos de purificação dos judeus. São ritos que devem ser superados porque não são capazes de dar vida aos cristãos. Sob a ordem de Cristo, os serviçais as encheram de água. Esta água é transformada em vinho que traz alegria para o viver. Nós sacerdotes, somos convidados a repetir a ação dos serviçais. Encher a talhas de água para que Cristo possa realizar nas pessoas o milagre da transformação da água em vinho. Os sacerdotes são chamados a conduzir os homens fora do deserto para lugares de vida, para lugares de encontro com Cristo que dá vida.

São Paulo diz que devemos gerar Cristo em nós. Da Igreja de hoje se espera que gere Cristo para o mundo.

Pela fé em Cristo somos transformados. Pela nossa fé Cristo há de transformar o mundo. A fé é revolucionária, não se conforma, não pára nos obstáculos. A fé costuma estourar odres velhos.Uma fé viva é uma fé que convence. A fé é como a parreira, é invadente, ultrapassa as barreiras.

- Fazei tudo o que Ele vos disser – Maria é aquela que viveu para cuidar de Cristo. Continua a cuidar do corpo de Cristo que é a Igreja. Nesta época em que as pessoas vivem uma vida sem o vinho de festa, diz: fazei tudo o que Ele vos disser. E queremos estar aptentos a todas as palavras que Cristo nos dirigir.

Também na Igreja de Florianópolis queremos caminhar como quem está disposto a escutar as palavras de Cristo, superarmos os momentos de desânimo e trestemunhar a alegria de quem encontrou Cristo vivo e ressuscitado.

Florianópolis, 15 de novembro de 2011.

D. Wilson Tadeu Jönck

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