quinta-feira, 10 de março de 2011

A vida no planeta.



“Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe Terra, que nos sustenta e nos governa, e produz frutos diversos, e coloridas flores e ervas.” Quando S. Francisco de Assis († 1226) compôs o Cântico das Criaturas, não se sabia o que era poluição, emissões de gases de efeito estufa, mudanças climáticas, chuvas tóxicas, desastres ambientais etc.

Essas palavras e expressões que hoje fazem parte de nosso linguajar dão uma idéia de como o mundo mudou. E, nesse campo, mudou para pior. Para nós, não deixa de ser poético ouvir Francisco louvar o Senhor “pelo irmão Vento, pelo ar ou neblina, ou sereno e de todo o tempo, pelo qual às Tuas criaturas dais sustento”.

Enquanto isso, o noticiário da televisão nos apresenta o calor insuportável de algumas cidades brasileiras e a neve que fecha aeroportos de cidades européias; as revistas semanais destacam tanto a seca no sertão nordestino como as geleiras da Patagônia argentina, as quais perdem alguns quilômetros quadrados a cada ano. O que está acontecendo com nossa irmã, a mãe Terra?

Ao criar o ser humano, a ordem do Senhor era para que o homem e a mulher submetessem a terra, dominando sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo chão (cf. Gn 1,28), não para que deles usufruísse egoisticamente e os destruísse. Afinal, uma geração deve entregar à outra um planeta melhor, mais saudável e agradável, e não uma terra transformada em deserto, rios sem vida e ambientes poluídos.

Para que cresça em nós a consciência de nossa responsabilidade perante a mãe Terra e as novas gerações, a Igreja no Brasil escolheu como tema da Campanha da Fraternidade de 2011: “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e, como lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). Com essa Campanha ao longo da Quaresma, “tempo de escuta da Palavra, de oração, de jejum e da prática da caridade como caminho de conversão” (Texto Base - Apresentação), a Igreja no Brasil quer “que todas as pessoas de boa vontade olhem para a natureza e percebam como as mãos humanas estão contribuindo para o fenômeno do aquecimento global e as mudanças climáticas, com sérias ameaças para a vida em geral, e a vida humana em especial, sobretudo a dos mais pobres e vulneráveis” (id.).

ndividualmente, pouco poderemos fazer para reverter a situação atual de nosso planeta. Mas, à medida que as comunidades cristãs e as pessoas de boa vontade se conscientizarem sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e sentirem-se motivadas a participar de debates e ações que visem enfrentar o problema, na tentativa de preservar as condições de vida no planeta, poderemos ter esperança de que a situação de nosso mundo melhorará. O que está em causa é a própria vida humana. Segundo dados da ONU, já são 50 milhões os “migrantes do clima” – isto é, pessoas diretamente afetadas pelas mudanças climáticas. Tais mudanças são fruto de derrubadas de florestas, de modificações nas águas marinhas e na atmosfera.

Poderemos fazer nossa a pergunta de Caim, quando Deus lhe perguntou onde estava seu irmão Abel: “Sou por acaso guarda de meu irmão?” (G 4,9). Será uma tentativa de fugirmos do problema e tentarmos nos convencer de que não temos nada a ver com os problemas atuais. Poderemos, também, mobilizar pessoas, comunidades e toda a sociedade para buscar alternativas para a superação dos problemas decorrentes do aquecimento global; propor comportamentos que tenham a vida como referência no relacionamento com o maio ambiente; e denunciar situações e apontar responsabilidades no que diz respeito aos problemas ambientais decorrentes do aquecimento global. Nesse caso, estaremos dando uma notável contribuição para a vinda de um mundo novo – um mundo em que cada irmão se sinta responsável pelos demais irmãos.

Texto: Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Administrador Apostólico de Florianópolis
e Bispo eleito de São Salvador da Bahia

Leia mais:

Mensagem do papa Bento XVI para a Quaresma

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